Marinalva Silva Oliveira apresenta proposta da Chapa 1, apoiada pela CSP-Conlutas, para as eleições do Andes-SN
12/04/2012
As eleições para a diretoria do Andes-SN (Sindicato Nacional dos
Docentes das Instituições do Ensino Superior), do biênio 2012-2014,
serão realizadas nos dias 8 e 9 de maio. Esse sindicato é filiado à
Central e tem sido referencia de independência do governo e de luta em
defesa da Educação e dos docentes em todo país.
Duas chapas se apresentaram para a eleição, mas somente a chapa 1
“ANDES – Trabalho Docente e Compromisso Social” apoiada pela
CSP-Conlutas foi homologada. A chapa 2 “ANDES-SN para os professores”
não atendeu todas as exigências para registro e, por isso, não disputará
a eleição.
A chapa 1 tem como presidente Marinalva Silva Oliveira,
professora da Universidade Federal do Amapá. Para conhecer um pouco mais
sobre as propostas da Chapa 1, a CSP-Conlutas entrevistou Marinalva que
apresentou suas opiniões, expectativas e proposta para a direção do
Andes-SN. Confira:
CSP Conlutas: Marinalva, você é candidata a presidente do ANDES-SN. Fale um pouco da realidade do trabalho docente.
Marinalva Silva Oliveira - A docência está vinculada
à possibilidade de transformação da sociedade, de reinventá-la e
reorganizá-la de uma forma mais justa, igualitária e solidária.
Entretanto, ao mesmo tempo, luta contra sua submissão ao sistema. Quando
se nega ao docente a possibilidade de tempo para pensar, este passa a
funcionar para o sistema reforçando as ideologias da classe dominante e,
consequentemente, o processo de subjugação do trabalhador.
O ensino superior no espaço privado há muito está nesta condição. No
âmbito público, as políticas utilizadas pelos sucessivos governos têm
gerado uma universidade de poucos recursos e elevada competitividade.
Isso tem conduzido a preocupações comparativas entre os docentes a um
ambiente competitivo e estressante e ao adoecimento docente. Os
docentes, então, não conseguem mais transformar nada, pois toda a
preocupação passa a ser parecer produtivo dentro do sistema adotado.
Abandona-se a lógica da transformação e passa-se a construir um ambiente
individualizado e auto-centrado onde não há tempo, espaço ou interesse
para pensar a sociedade e sua transformação.
Não podemos acatar essa condição, temos que voltar a ser capazes de
pensar o mundo, a realidade que nos cerca e de ter alguma possibilidade
de transformação social. A universidade humboldtiana, aquela que se
define pelo tripé ensino, pesquisa e extensão, como um lócus de resposta
aos anseios sociais não pode morrer, não podemos deixar. Precisamos não
nos tornar anacrônicos, precisamos ir além da lógica de preparar para o
mercado de trabalho, precisamos reconstruir a universidade como um
centro do pensar, para então, transformar a sociedade.
CSP Conlutas: O ANDES-SN acaba de
realizar um Congresso que teve como um dos centros a defesa da educação
pública. Como você vê o quadro da educação superior no Brasil e as
políticas do governo federal?
M.S - As políticas do governo federal estão
alinhadas com as políticas de organizações internacionais como FMI, BM e
OMC que tem como centro de seus interesses o capital e seus donos. Toda
a legislação e política adotadas visam entregar o sistema de educação
ao mercado, a partir de uma lógica liberalizante, ou seja, tornar a
educação um mecanismo rentável, muito rentável para os donos do capital.
Para isso o governo vem sistematicamente implodindo as universidades
públicas brasileiras. Reduz salários dos trabalhadores e trabalhadoras,
reduz recursos diretos às IES, aumenta o número de discentes sem aumento
proporcional de docentes e técnicos. Ao mesmo tempo incentiva a
iniciativa privada por meio de fomentos como Prouni e FIES, permite
cursos de curta duração, amplia a EaD, e amplia a abertura do sistema
educacional brasileiro ao capital internacional.
Sob esta lógica, a educação deixa de ser direito, vira mercadoria e
quem paga por ela somos nós a custa de endividamentos. A seguir o
caminho que o governo vem implementando, só terão acesso a instituições
de qualidade aqueles que fizerem empréstimos de longo prazo para bancar a
educação dos filhos, como se faz para comprar uma casa.
O ANDES-SN sempre defendeu e continuará defendendo a educação como
direito, o caderno 2 que atualizamos no 31º Congresso do sindicato é uma
mostra disso. Um ensino público, gratuito, autônomo, democrático, de
qualidade e socialmente referenciado que esteja a serviço da construção
de uma sociedade justa e igualitária é a nossa meta, e é, além da defesa
dos interesses da categoria, a razão de ser do ANDES Sindicato
Nacional.
CSP Conlutas: Como está a situação do registro sindical do ANDES?
M.S - O Estado tem adotado mecanismos de controle
sobre a organização dos trabalhadores e trabalhadoras com o objetivo de
retirar direitos dos (as) mesmos (as). O ANDES-SN tem representado
oposição a essas políticas e tem lutado arduamente na defesa destes
direitos. O governo, por sua vez, tem utilizado contra o ANDES-SN e
demais organizações que se lhe opõem, todas as ferramentas a sua
disposição, incluindo aquelas oriundas das mudanças implementadas a
partir da chamada reforma, ou como nós denominamos, contrarreforma
sindical.
Dentre os mecanismos utilizados pelo governo na tentativa de
fragilizar a ação dos opositores está o registro sindical,
reconhecimento legal para funcionamento de uma entidade sindical. O
ANDES-SN, por exemplo, viveu uma parte de sua história sem o registro
sindical, embora felizmente nossas ações tenham suplantado esse entrave
burocrático. Destaque-se que a tramitação da PEC 369, retomada no
parlamento, tende a aprofundar esses mecanismos de controle sobre as
entidades sindicais. Dessa forma, as ações quanto ao registro do
ANDES-SN ocorrerão nos âmbitos político e jurídico para garantir a
concepção sindical classista e autônoma. Ao mesmo tempo, precisamos
fazer uma ampla discussão com a base do sindicato e atuar junto com a
CSP-Conlutas e outras entidades denunciando os ataques e os objetivos
dos mesmos que tem como central a caça da liberdade e autonomia
sindical.
Em resumo, o governo tem buscado estabelecer controles rígidos,
impedir a liberdade sindical e aprofundar os ataques à capacidade de
organização sindical, especialmente contra entidades combativas como o
ANDES-SN. Esta é a razão pela qual o registro do ANDES-SN foi suspenso
pelo governo, mas isso não deterá os docentes, continuaremos mobilizando
para enfrentar a repressão às atividades sindicais da categoria. Vamos
resistir aos ataques ao nosso projeto e concepção sindical, pois a força
do ANDES deriva não da burocracia, mas dos docentes que o compõem e que
labutam na universidade diariamente.
CSP Conlutas: Marinalva, duas chapas se inscreveram para a eleição do ANDES-SN. Quais são os projetos em disputa?
M.S - Duas chapas se inscreveram, mas apenas a nossa
Chapa foi homologada, pois a outra Chapa não cumpriu as exigências
postas no Estatuto do ANDES e no Regimento Eleitoral.
Nós da Chapa 1 defendemos um sindicato livre, autônomo e combativo
que nos represente e que enfrente esse modelo de educação privativa.
Lutamos e lutaremos por uma universidade de qualidade, pública e
gratuita como política de estado. Uma educação em que o governo invista
de fato e não por meio de estratégias enganosas como os editais. Não é
possível ficarmos nos digladiando por escassos recursos lançados por
meio de editais, enquanto o governo prioriza os interesses do mercado.
Defendemos uma entidade classista cujo papel deve ser o de transformação
social para tornar a sociedade mais justa e igualitária.
CSP Conlutas: Como você vê as relações
do ANDES-SN com o processo de organização mais geral da classe
trabalhadora no Brasil e, em particular, a relação com a CSP Conlutas?
M.S - O processo de organização da classe
trabalhadora é central para o ANDES-SN, pois entendemos não ser possível
qualquer possibilidade de transformação social, a partir do interesse
dos trabalhadores, sem que haja a aglutinação da classe.
Lamentavelmente, com a política liberal e a cooptação sindical assumida
por um governo que cresceu por dentro dos sindicatos, a aglutinação está
fragilizada.
O ANDES-SN sempre assumiu como central o processo de organização dos
diferentes segmentos da classe trabalhadora, de modo que este tema é
presente nos nossos congressos e CONAD e em nossas ações cotidianas.
Temos nos esforçado para que a luta conjunta dos SPF [Servidores
Públicos Federais] ocorra, ocupamos espaços como a CNESF e estamos
construindo a CSP-Conlutas que é um instrumento novo e importante na
organização da classe trabalhadora.
O ANDES-SN participou ativamente da construção da CSP-Conlutas por
entender, após amplas discussões na base, que essa central é fundamental
no enfrentamento ao capital e em defesa dos interesses da classe
trabalhadora. Só através da unidade de diversos setores que tem enquanto
meta uma sociedade justa e igualitária, chegaremos à vitória. Assim,
precisamos da CSP-Conlutas como uma organização autônoma, independente e
combativa que nos permita enfrentar as condições de expropriação e
espoliação a que a classe trabalhadora vem sendo submetida. O ANDES-SN
filiou-se à CSP Conlutas, pois entende que ela é um polo agregador
absolutamente necessário para a reorganização da classe.
CSP Conlutas: De 27 a 30 de abril teremos o I Congresso Nacional da CSP- Conlutas, em Sumaré/SP. Como vai ser a participação do ANDES-SN?
M.S - O I Congresso da CSP Conlutas, que tem como
tema “Avançar na organização de base”, ocorre num momento ímpar para
fortalecermos essa entidade classista, democrática para avançar na
unidade da luta e na organização de base. Por isso o ANDES-SN participa
ativamente de todas as instâncias da CSP-Conlutas. No I Congresso
Nacional não será diferente, teremos delegados da diretoria nacional e
de seções sindicais cujos posicionamentos quanto às normas estatutárias,
organização, expansão e enraizamento da central buscarão tornar a
CSP-Conlutas ainda mais forte e atuante no cenário nacional.
CSP Conlutas: Você é professora no Amapá? O que diferencia a atuação de uma educadora nessa região do país?
M.S- Um colega do Amapá escreveu um artigo na
revista Universidade e Sociedade do ANDES-SN onde ele situava a nossa
instituição na periferia da periferia do capital. De fato, essa é a
condição em que nos situamos, estamos deslocados tanto no aspecto
geográfico quanto em relação ao centro das decisões. Toda política
educacional implementada no centro do sistema financeiro afeta o Brasil e
se expressa com mais força em instituições periféricas como aquelas que
estão no interior dos estados centrais ou nos estados mais distantes. O
Reuni, programa de reestruturação do governo para as universidades
federais, é um claro exemplo disso. A Unifap praticamente dobrou seu
número de alunos e cursos, mas a contrapartida em termos de melhorias
para a instituição é muito reduzida. Técnicos e docentes vivenciam
fortemente a superexploração e a queda de qualidade resultante da falta
de tempo para se dedicar aos detalhes da função. Por conseguinte, essa
falta de qualidade afeta os alunos e o próprio desenvolvimento da
região. Então, ser docente na periferia da periferia, significa ter que
ser ainda mais forte na luta contra o desmonte da universidade.
CSP Conlutas: Fale um pouco de você, quem é Marinalva Oliveira?
M.S- É muito difícil uma auto-definição, mas vamos
lá! Sou professora e pesquisadora com formação em nível de doutorado na
área de Psicologia na Universidade Federal do Amapá. Minhas pesquisas
estão centradas nos desafios da inclusão escolar e social de pessoas com
deficiência, de forma mais específica, crianças com síndrome de Down e
atuo na graduação e na pós-graduação. Iniciei no movimento sindical dos
bancários e posteriormente no SINDUFAP, seção sindical do ANDES-SN. Sou
mulher, mãe e trabalhadora dentro do sistema capitalista, portanto,
sofro todas as atrocidades que o mesmo nos traz, mas luto diariamente
para superá-las e sonho com outra universidade e sociedade. Uma
sociedade livre das opressões e das discriminações!
CSP Conlutas: Quer deixar algum recado para aqueles que acompanham a página da CSP Conlutas na internet?
M.S - Para o contínuo fortalecimento do ANDES-SN e
da CSP Conlutas, chamamos os professores e professoras de todo o país a
votarem nos dias 8 e 9 de maio na Chapa 1, Trabalho Docente e
Compromisso Social. As eleições são diretas, com urnas em todo
território nacional possibilitando a todos os sindicalizados e
sindicalizadas decidirem quem vai dirigir o Sindicato nos próximos dois
anos. Essa forma democrática como o ANDES-SN se organiza, ocorre não só
nas eleições, mas em todas as instâncias de deliberações através de
CONAD e Congressos. Por isso convidamos todos e todas a se envolver com o
contínuo fortalecimento do ANDES-SN votando em defesa da Universidade
pública e da valorização do trabalho docente! Por último, visitem nosso
blog e organize o comitê de campanha na sua universidade http://chapa1andes-sn.blogspot.com.br/.
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